segunda-feira, 29 de julho de 2013

O Manuel foi à aula de Português

A professora falou em adjectivos. Disse que nesse dia só íamos falar em adjectivos de grau normal.
Quando cheguei a casa todo esmurrado, a minha mãe perguntou-me o que se tinha passado, e eu, falei-lhe dos meninos que me tinham empurrado no recreio. Fui descansar, mas entretanto ouvi que na cozinha, a minha mãe sussurrava alto, "Crueldade, crueldade". Reparei na fúria com que colocava as batatas na panela velha da sopa. 
Será que a professora se tinha enganado? 
"Cruel" não era, sem dúvida, um adjectivo de grau normal...

sexta-feira, 12 de julho de 2013

O Manuel quer chorar

A minha respiração está acelerada, inconstante, insuportável... Quero tanto chorar, que não consigo, por isso, carrego o peso no coração. Este peso que trago comigo, dificulta-me o andar, é o acumular de muitos pensamentos e angústias juntas.
Foi hoje que vi o meu mundo a diminuir de tamanho, quando já toda e qualquer pessoa me insubordinava o pensamento.

terça-feira, 9 de julho de 2013

O Manuel caiu.

...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ... corria e ...   ...   ...   ....   ... corria ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ... e ....   ...  e ...   ... e ...  e ..e .. e .e,    caiu...
Sem forma, sem jeito e com muita muita vergonha, Manuel caiu no meio do relvado que não tinha fim.
Era verdade, o relvado nunca nunca nunca acabava, mas o que acabava, era a sua dignidade. À medida que foi recuperando os sentidos, Manuel ouvia risos, que não eram aqueles risos normais e saudáveis, eram risos de gozo, aqueles que ele mais odiava.

Todos os dias se recostava numa ombreira, onde de manhã, estava sombra, era escuro e ninguém o via. Era a forma que encontrava para estar em paz consigo mesmo. Era a única maneira que tinha para dar atenção às vozes que falavam na sua cabeça. 

A rejeição já era tão insuportável, que Manuel achou que se nunca mais falasse, tudo passaria ao seu lado e não o atingiria. Manuel seria invisível, como tantas vezes desejara.
Oh, que felicidade, que rubor intenso que sentiu ao realizar esta magnífica ideia! 

[À noite]

Oh, que tristeza, tão grande e tão profunda. Ninguém lhe falou. A verdade é que, ao tentar que nada o atingisse, acabou por ser esfaqueado pelas costas, pela arma mais poderosa de todas, a solidão.

Nesse dia, entendeu o que era, na verdade, ser só. Nunca mais esqueceu esse sentimento, que para ele, parecia uma forma de viver...

domingo, 7 de julho de 2013

Olá, eu sou a Maria.

Ao longe avistei o Manuel, mas, perdi o controlo, e as lágrimas corriam a minha face sem qualquer permissão... Esforcei-me ao máximo por esboçar um sorriso quando ele reparou em mim, porque não queria que fixasse os meus olhos delineados por dor...
Ele sorriu (timidamente) de volta, e depois, nem mais uma lágrima ousou sair dos meus olhos, que já não estavam tristes.
Fugi ao encontro de nada, porque sentia que tinha encontrado tudo. 
  -  "Oh, Manuel..." - soltou num suspiro ofegante.